Arquivo para o mês: abril, 2024

Desde o século XIX, enfrentamos uma ferrenha disputa em torno dos rumos econômicos do nosso país. De um lado, as oligarquias agrárias lutando para transformar o Brasil em uma vasta fazenda de cultivo de produtos agrícolas e extração de matéria prima para o mercado externo. Do outro, setores favoráveis ao desenvolvimento industrial almejam modernizar a economia nacional, produzindo bens industriais com maior valor agregado. As oligarquias representam um Brasil marcado pela escravidão, atraso e profundas desigualdades, enquanto o setor industrial, apesar de suas próprias contradições, simboliza a modernização, a redução das desigualdades e a soberania nacional. Esse conflito persiste até os dias atuais. As oligarquias permanecem ativas e enriquecendo com o agronegócio. Acrescenta-se o setor rentista, que lucra com a desregulamentação do sistema financeiro, juros altos e a dívida pública, o pessoal do capital especulativo e parasitário. Além disso, conta com o apoio deslavado dos grandes veículos de comunicação e são politicamente representados pela bancada BBB (boi, bala e bíblia). Enquanto o setor industrial, que outrora já teve uma participação bem maior no PIB, sofre nas últimas décadas um encolhimento contínuo, regredindo a década de 40, quando a participação da indústria de transformação era um pouco mais de 10%. Não somos contrários ao agronegócio em si, mas consideramos absurdo exportar gado vivo. Embora sejamos líderes na exportação de laranjas e frutas cítricas, não produzimos vitamina C. Anualmente, batemos recordes nas exportações de soja in natura, mas nossa produção de farelo e óleo de soja é praticamente inexistente. Apesar de sermos o maior produtor de celulose, continuamos a importar papel. Poderíamos continuar citando exemplos, mas o que queremos enfatizar é que o Brasil possui vastas riquezas e todas as condições para se industrializar, no entanto, ainda persiste a condição de uma “colônia exportadora”. O maior desafio que enfrentamos é conter a reprimarização da economia e aumentar a produção industrial, levando em consideração as demandas de sustentabilidade e a absorção de tecnologias. É amplamente reconhecido que um país só se desenvolve economicamente com uma indústria forte. É a indústria que cria os melhores empregos, promove a inovação e a tecnologia e impulsiona a geração de riqueza. Um país como o Brasil não pode se sustentar apenas com a riqueza gerada pelo agronegócio e pelo setor de serviços. Os empregos gerados nessas áreas são limitados, especialmente no setor agrícola exportador, que é altamente mecanizado. Os apóstolos do atraso pregam cotidianamente que o estado é ineficiente e que tudo deve ser entregue ao mercado. Privatizam áreas estratégicas e defendem que a melhor política industrial é não ter política industrial. Essa pregação faz parte da tentativa de nos transformar em um fazendão de commodities. Escondem que muitas tecnologias que estão disseminadas na sociedade foram desenvolvidas por pesquisas e setores vinculados ao estado. Fecham os olhos para o fato de que o mundo pós pandemia questionou a globalização e transformou o Consenso de Washigton em uma mera ideologia de dominação. Nós, trabalhadores em geral e da indústria em particular, precisamos reconhecer que a retomada da indústria é fundamental. Nesse sentido, estamos comprometidos com o projeto apresentado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, entidade que reúne dezenas de representações da sociedade civil e do governo, que delineia uma política industrial audaciosa para o país, chamada Nova Industria Brasil. Apesar dos obstáculos apresentados por um governo estadual que insiste em práticas neoliberais, a CUT – Central Única dos Trabalhadores, tomará medidas concretas junto ao legislativo, empresariado e centros de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para impulsionar os investimentos na indústria gaúcha, que possui quadros técnicos de boa qualidade, polos produtivos como o setor dos calçados, moveleiro, máquinas agrícolas, celulose, alimentação, químico e petroquímico. O SINTEC-RS, sindicato filiado à CUT, desempenha um papel crucial nessa empreitada. É hora de agir.