A sanha dos governos de Jair Bolsonaro
e Eduardo Leite em entregar o patrimônio público para empresários vai cobrar um
preço caro dos gaúchos.
Estão na mira das privatizações empresas
fundamentais para o estado do Rio Grande do Sul, como a Companhia Riograndense
de Saneamento (Corsan), a Empresa de Trens Urbanos (Trensurb, que é federal), e
a CTG Eletrosul, subsidiária da Eletrobras que cuida da distribuição de energia
elétrica para todo o sul do país.
O discurso de que privatizar é
bom não se apoia na realidade. O exemplo mais claro dos malefícios dessa
política foi o que aconteceu com a Vale, uma das maiores empresas de mineração
no mundo.
Com reservas avaliadas em R$ 100
bilhões em 1997, a Vale do Rio Doce – hoje apenas Vale – foi vendida pelo governo
Fernando Henrique Cardoso por apenas R$ 3,3 bilhões naquele ano.
Para ter uma ideia, somente no primeiro
trimestre de 2021 a Vale divulgou um lucro líquido de R$ 30 bilhões. Esse lucro
imenso ocorreu em função do aumento de demanda da China, um dos primeiros
países a entrar em processo de retomada econômica no cenário da pandemia de
Covid-19, além de ser a principal compradora de minérios no mundo.
Esse lucro poderia estar sendo
usado em benefício dos brasileiros, mas vai para o bolso dos acionistas.
Então, como vender uma empresa que é capaz de lucrar tanto pôde soar um bom negócio? Vale a pena repetir esses erros ou é apenas mais uma mentira para lucrar com o que pertence ao povo?
A desculpa da gestão eficiente
do mercado privado
O que é ser eficiente? Essa
pergunta deve vir acompanhada de outras reflexões: eficiência em que e para
quem?
Para o setor privado, eficiência
é a maximização de ganhos e, principalmente, dos lucros. Independente do
serviço e sua essencialidade, ser eficiente na lógica privada é ter um negócio
lucrativo para quem o gere (donos ou acionistas).
Essa lógica se conflita com a
responsabilidade do Estado quanto à geração de empregos, acesso a serviços
universais garantidos na Constituição, manutenção dos direitos de um povo e
proteção do patrimônio da nação.
Quando se trata de recursos
estratégicos, como água e energia, a capacidade de gerar lucro não pode se
sobrepor à importância frente a um cenário econômico complexo e às necessidades
básicas de vida.
Eficiência na gestão pública não
se mede por lucro, mas sim pelo cumprimento do papel de proteger o que é nosso
e garantir que continue servindo aos interesses coletivos, buscando atender
sempre melhor as necessidades da população.
No fim, o argumento de boa gestão e eficiência do mercado privado, da maneira como ele é usado, é uma distorção feita no sentido de servir aos interesses econômicos e políticos de certos grupos, apenas.
A Vale é o exemplo da impunidade
das empresas privadas
Brumadinho e Mariana hoje são
lembradas devido às tragédias que se abateram sobre elas.
O maior crime ambiental na área
de mineração do mundo aconteceu no município de Mariana, Minas Gerais, em 5 de
novembro de 2015.
A Vale conseguiu a façanha de
destruir um rio que nem a mineração na região – onde está localizada Ouro Preto
– foi capaz de fazer ao longo de 300 anos de exploração de minério.
Pouco mais de três anos após
Mariana, a Vale repetiu o mesmo crime em outra barragem. Dessa vez em
Brumadinho, também em Minas Gerais. O número de vidas sacrificadas foi ainda
maior.
Até hoje as famílias afetadas
pelo rompimento das barragens lutam por indenização. Além disso, os danos ao
meio ambiente foram imensos e os biomas afetados devem levar décadas para se
recuperar.
Se dinheiro e poder econômico não
fossem considerados mais importantes do que a vida, os executivos da empresa
estariam presos. No mínimo a companhia já deveria ter pago multas bilionárias, mas
não foi o caso.
Essa impunidade no caso da Vale
estimula a irresponsabilidade do mercado privado, que privilegia sempre o lucro
de empresários e acionistas.
A empresa, uma gigante mundial do minério – se valendo do poder econômico que exerce – comprou sua impunidade após destruir cidades e ecossistemas inteiros. E o mais grave: ao custo de dezenas de vidas.
Se forem privatizadas, por que seria diferente com as empresas estatais?
Fonte: SINTEC-RS
